Couto Mixto é um recanto privilegiado pela natureza circundante que definia as fronteiras imaginárias do seu enclave de mistério pleno, assim como pela alma livre dos”Mistos”.
O nosso percurso passou por Maus de Salas (abraço para o Óscar do Aviva), com a albufeira mais silenciosa que já visitei e onde os feitiços megalíticos dos picos da Fonte Fria despertam o desejo de descobrir o que há para lá daquele banda, encantamento da serra do Xurés.
Couto Mixto é um hino de independência a todos os níveis e que se traduzia na sua forma de governo, cara a cara, encabeçado pelo Juiz do Couto e os Homens-Bons, hoje Homens de Acordo (que tanta falta fazem neste mundo…), guardando os seus títulos de independência na igreja de Santiago, na Arca das Três Chaves, com cada uma das três chaves a ficar sob custódia dos vários Homens de Acordo.
A origem do Couto Mixto é um segredo apaixonante…não se consegue descobrir e remonta à Baixa Idade Média: Século X – o seu fim, uma partição diplomática de dois países em revolta liberal, à luz do Tratado de Lisboa e com a anexação formal a 23 de junho de 1868.
Até à assinatura e entrada em vigor do Tratado de Lisboa, cada habitante do Couto elegia livremente a nacionalidade espanhola ou portuguesa, marcando P ou G na porta de entrada da sua casa. A partir do Tratado, os seus domínios passaram para a soberania da Espanha, integrados nos Concelhos de Calvos de Randín – aldeias de Santiago e Rubiás – e Baltar – aldeia de Meaus. Em contrapartida, passavam para a soberania de Portugal os chamados “povos promíscuos”, até então divididos pela linha da raia, atuais Soutelinho da Raia, Cambedo e Lama de Arcos (Chaves). O território do Couto Misto ainda incluía uma pequena faixa desabitada que hoje integra o município português de Montalegre.
Não pagavam tributos, nem contribuíam para exércitos e não eram obrigados a participar dos processos eleitorais e nem dos assuntos políticos quer de Portugal quer da Espanha.
E eram livres de cultivarem o seu próprio tabaco e tinham moinhos para o moer…e depois ainda tinham o Caminho Privilegiado…do contrabando!
Os habitantes do Couto Mixto dispunham de um caminho neutro, de cerca de 6 km de extensão, que, partindo do Couto, atravessava as terras de Calvos de Randín, na Galiza, e de Tourém, em Portugal, seu destino.
dentro de seus limites (nem de contrabando), nem de molestar quem o utilizava.
Terminámos o passeio com a visita a Pitões das Júnias, visita obrigatória pela vetusta encosta da Piconha, a partir de Tourém, onde as fragas de granito rilhadas pelas ventanias e nevadas não estão imóveis nem são mudas, eternas guardiãs dos segredos da Terra Fria e da Terra Quente.
Uma aula de história em 3 países: um verdadeiro roteiro de tourwanderlust
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